O banho de sangue promovido pela última reunião Federal Reserve (Fed) de 2024 não se limitou às bolsas de valores. O mercado de criptoativos, conhecido por sua volatilidade, mostrou-se ainda mais vulnerável às sinalizações sobre os juros nos Estados Unidos. E a mudança na postura do banco central norte-americano atingiu o bitcoin (BTC) e outras criptomoedas como uma bomba, causando uma das maiores liquidações da história da moeda.

Após semanas de céu azul e sucessivos recordes, o bitcoin sofreu uma queda de 13,4%, recuando da máxima histórica de US$ 108 mil para US$ 92 mil. No momento da produção deste texto, a criptomoeda já havia recuperado parte de seu valor, sendo negociada a US$ 97.676,97, conforme dados do CoinMarketCap.

As altcoins enfrentaram perdas ainda mais expressivas do que o bitcoin: o ethereum (ETH) caiu 16%, enquanto o dogecoin (DOGE) despencou 26% em certo momento. O segmento de memecoins, como um todo, mostrou-se particularmente volátil, com várias registrando declínios de dois dígitos. 

O valor total do mercado de criptomoedas caiu 11,8% em 24 horas, atingindo US$ 3,33 trilhões, segundo a CoinGecko.

Liquidação histórica de criptomoedas

A sinalização de um cenário de juros em nível neutro nos Estados Unidos desagradou investidores que esperavam cortes mais agressivos em 2025, instaurando um clima de incerteza no mercado. 

Combinada ao pico histórico alcançado pelos criptoativos, essa perspectiva estimulou a liquidação de carteiras e a realização de lucros por parte de muitos investidores. Em apenas 24 horas, um total de US$ 1,4 bilhão em posições de criptomoedas foi liquidado.

Traders alavancados com posições longas (apostando na alta dos preços) foram os mais atingidos pela queda repentina, ficando expostos após o forte recuo. Essas posições representaram US$ 1,2 bilhão das liquidações.

O mercado de ETFs de bitcoin, que foi um dos principais motores da escalada do setor em 2024, também sofreu um impacto significativo. ETFs de BTC à vista registraram saídas líquidas recordes de US$ 671,9 milhões em 19 de dezembro, marcando o maior valor desde seu lançamento em janeiro. 

Quase um terço das saídas vieram do Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), que reportou uma perda de US$ 208,6 milhões, seguido pelo ARK 21Shares Bitcoin ETF, com perdas de US$ 108,4 milhões.

As saídas têm sido atribuídas à realização de lucros em meio à recente volatilidade, às taxas de gestão mais altas de alguns ETFs — como os 1,5% do GBTC em comparação aos 0,2%-0,3% de outros produtos — e à possível migração dos investidores para alternativas mais econômicas.

Para Aurelie Barthere, analista principal de pesquisa da Nansen, em entrevista ao The Block, a postura rígida do Fed e a incerteza política sobre as prioridades fiscais dos EUA, incluindo as negociações para evitar paralisações governamentais, foram fatores determinantes para o movimento de venda.

Barthere projeta um intervalo de preço entre US$ 90.700 e US$ 91.000 para o bitcoin, indicando um possível nível de suporte pós-eleições nos EUA.

“Até agora, a correção parece ordenada, sem sinais de pânico nos volumes de negociação, o que sugere espaço para compras na baixa. A correção é normal e saudável, considerando que as criptomoedas superaram todos os outros ativos financeiros desde 5 de novembro”, avaliou Barthere.

Jerome Powell vs bitcoin

Para piorar ainda mais o clima entre o Federal Reserve e o mundo cripto, o presidente do Fed, Jerome Powell, falou sobre a proposta do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de criar uma reserva estratégica de bitcoin.

Powell afirmou que o banco central “não tem permissão para possuir bitcoin” e foi além: “Esse é o tipo de coisa que o Congresso deve considerar, mas não estamos buscando uma mudança na legislação no Federal Reserve”.

Embora a fala de Powell tenha gerado pessimismo em parte do mercado, o cenário ainda está em construção. 

A presidência de Donald Trump começa apenas em 20 de janeiro, e as mudanças esperadas só devem ganhar tração a partir de então. 

Entre elas, está o projeto de lei da senadora republicana Cynthia Lummis, que propõe a criação da reserva estratégica de bitcoin. O plano prevê que o Tesouro dos EUA adquira 200.000 bitcoins anualmente até atingir um estoque de 1 milhão de tokens.

Além disso, no mesmo dia 20 de janeiro, Gary Gensler deixará a presidência da SEC (equivalente à CVM no Brasil), sendo substituído por Paul Atkins, um empresário bem visto pelo mercado cripto.

Outro fator que sustenta o otimismo é o ritmo acelerado de compras de criptoativos por instituições financeiras para a produção de ETFs, superando a velocidade com que esses ativos são minerados. 

*Com informações do Decrypt, Cointelegraph e The Block

Fonte: SeuDinheiro

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