O governo de Javier Milei já avisou oficialmente que não vai fazer nenhum pedido de desculpas oficial à Espanha, após o presidente da Argentina se referir à esposa do primeiro-ministro Pedro Sánchez como “corrupta”, num evento ontem em Madri, mas a fala polêmica do líder libertário rendeu críticas fortes de onde ele não esperava: grandes grupos empresariais. A informação é destacada em todos os principais sites de notícias do país.

A forte reação negativa ocorre após um encontro de Milei no sábado com representantes das grandes companhias investidoras espanholas, que rendeu até uma foto oficial.

O movimento foi puxado nesta segunda-feira (21) por Antonio Garamendi, presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) e foi seguido por empresas líderes em investimentos na Argentina, como Telefónica, Santander, BBVA, Iberia e Naturgy, entre outras.

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“São declarações fora do tom. Não é o local ou o lugar. Não é isso que se pede a dois países amigos. A Espanha é o principal investidor europeu na Argentina”, disse o empresário espanhol em declarações à imprensa.

Para o líder da CEOE, a principal associação patronal espanhola, “não faz qualquer sentido atacar” Sánchez e ainda mais fazê-lo em Madri. Ele argumentou que são opiniões “radicalizadas”.

A Telefónica, juntou forças às críticas do líder empresarial e defendeu em nota oficial uma “atmosfera de colaboração e diálogo construtivo” com a Argentina, “e não o contrário”. Para a companhia, não faz sentido, “atacar nosso primeiro-ministro e sua esposa” durante uma visita à Espanha.

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Como recordou a empresa, neste mesmo final de semana diferentes representantes do tecido empresarial espanhol tiveram “a oportunidade de ouvir e partilhar com o presidente Milei os planos de ação que estão sendo levados a cabo na Argentina e a situação atual dos investimentos naquele país, num quadro de trabalho absolutamente de natureza técnica e econômica”.

A concessionária Abertis também condenou as declarações do líder argentino em um comunicado à imprensa. “Este tipo de linguagem e insultos não contribuem para a coexistência de nossas sociedades e em nenhum caso devem fazer parte da dialética política entre dois países irmãos, com uma longa história de colaboração e defesa da democracia”.

A Proeduca, que tem filial na Argentina e ampla atividade na maioria dos países latino-americanos, justificou sua presença na “reunião de negócios com o presidente da República Argentina” no final de semana e também rejeitou suas declarações. “Rejeitamos que circunstâncias às quais somos alheios tenham derivado, em violação ao princípio da presunção de inocência, no questionamento do ambiente familiar do presidente do Governo da Espanha”.

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“Nossa entidade quer que as relações diplomáticas entre Espanha e Argentina voltem à plena normalidade entre dois países tradicionalmente unidos por fortes laços de fraternidade que devem continuar a contribuir para o crescimento de ambos os países”, disse.

Os banco Santander e o BBVA subscreveram integralmente as declarações do presidente do CEOE. Fontes do BBVA rejeitaram “profundamente” as declarações de Milei num evento político “totalmente alheias à reunião de negócios” do sábado. Por sua vez, fontes do Santander disseram concordar com as palavras de Garamendi sobre o assunto.

Para a Iberia considera, as falas de Milei a respeito de seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, “não atendem” à linguagem diplomática “que deve ser usada entre dois países amigos”. A Naturgy também disse endossa na íntegra as declarações do presidente da associação patronal CEOE, nas quais rejeitou “profundamente” os comentários do presidente da Argentina.

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Crise diplomática?

Segundo o jornal Ámbito Financiero, nos corredores da Casa Rosada atribuem a altercação a um conflito estritamente pessoal, pelo que antecipam que “não há razão para romper relações” entre os dois países.

Além disso, o líder do PSOE foi acusado de se “intrometer” na política local ao tomar o lado de Sergio Massa na eleição presidencial.

O governo espanhol convocou a embaixadora em Buenos Aires, María Jesús Alonso Jiménez, para consultas após as duras declarações de Milei. Sánchez comentou hoje que “entre governos, os afetos são livres, mas o respeito é inegociável”.

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Mas Milei não se mostrou nem um pouco arrependido. Na volta ao país nesta manhã, escreveu no X “O Leão voltou, surfando em uma onda de lágrimas socialistas”.

Já o ministro argentino do Interior, Guillermo Francos, afirmou que o conflito começou com o questionamento de vários colaboradores de Pedro Sánchez contra Milei, e afirmou que “nenhum pedido de desculpas é apropriado” por parte do governo argentino.

“Foi um presidente da Espanha fazendo campanha para Massa, não sei do que ele está reclamando agora”, afirmou. “O presidente Milei não vai comentar isso em nenhum sentido, ele não sente que tem que pedir desculpas, isso não vai acontecer”, concluiu.

Fonte: InfoMoney

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