A persistência das chuvas no Rio Grande do Sul no fim de semana e as previsões de que as precipitações deverão durar pelo menos até quarta-feira pioraram as perspectivas para a colheita de soja e arroz no Estado. Até o fim da semana passada, não havia expectativa de perdas expressivas, mas nesta segunda-feira o pessimismo aumentou. A consultoria Datagro, por exemplo, já calcula uma quebra de 11% nas lavouras de arroz e de entre 3% e 6% no caso da soja.

Arroz

O Rio Grande do Sul lidera a produção brasileira de arroz, e o plantio nesta safra 2023/24 alcançou pouco mais de 900 mil hectares, segundo a Emater/RS-Ascar. O órgão estimava uma colheita de 7,5 milhões de toneladas, mas, segundo a Datagro, o volume deverá ficar entre 6,7 milhões e 6,8 milhões de toneladas. Isso porque 17% da área total semeada, ou cerca de 150 mil hectares, ainda não foi colhida, e 45 mil hectares estão em regiões que sofrem com inundações.

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“Considerando que o arroz de terras baixas é uma cultura acostumada com umidade, e que consegue ficar embaixo da água por até sete dias, a avaliação preliminar é que as perdas poderão girar em torno de 50% da produção potencial restante, ou cerca de 600 mil a 700 mil toneladas”, informou a consultoria, que calcula o prejuízo em quase R$ 70 milhões – sem contar volumes eventualmente perdidos em armazéns afetados pelas chuvas.

Soja e milho

No caso da soja, principal grão cultivado no Rio Grande do Sul, a área plantada nesta safra 2023/24 chegou a 6,7 milhões de hectares, e a produção era inicialmente estimada em 22,2 milhões de toneladas, 15% do volume nacional e com aumento de 71% em relação a 2022/23, ciclo que foi prejudicado pela estiagem provocada pelo fenômeno La Niña. Pouco menos de 80% da área total foi colhida até a semana passada, e para a área que resta as contas atuais resultam em perdas entre 15% e 25% (750 mil a 1,25 milhão de toneladas).

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Para o milho, as perdas serão menos significativas, até porque o Estado não é um grande produtor. A área plantada com o cereal em 2023/24 atingiu 800 mil hectares, com projeção inicial de colheita de 5,3 milhões de toneladas, ou 5% do total nacional. Cerca de 85% da área foi colhida até a semana passada, e se as perdas na área que resta ficarem entre 15% e 25%, como na soja, a quebra será de até 200 mil toneladas. As lavouras de feijão, finalmente, tendem a ter problemas apenas pontuais, conforme a Datagro.

Renegociação de contratos

Diante de tragédias como essa, que já matou dezenas de pessoas no Estado, em um segundo momento costumam crescer as preocupações em relação ao cumprimento dos contratos de entrega dos grãos, sobretudo soja. Para o advogado Frederico Favacho, sócio do escritório Santos Neto e especialista em agronegócios e contratos, os defaults serão inevitáveis, mas deverão se limitar a volumes que de fato não forem colhidos. Volumes armazenados ou que estão sendo transportados neste momento não deverão resultar em renegociações de contratos.

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Mas Favacho observa que as cargas que têm destino no porto de Rio Grande estão tendo que desviar de Porto Alegre e Canoas, por exemplo, e rodar até 400 quilômetros a mais que o normal – mas deverão chegar ao destino. Os custos com fretes certamente vão aumentar, e essa conta deverá cair no colo das tradings. Ocorre é que poderá haver problemas operacionais também em Rio Grande, que segue funcionando, já que as águas vindas do interior vão desaguar no mar. Nesse caso, as perdas tendem a crescer. Favacho é conselheiro da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Fonte: InfoMoney

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