As turbulências na Azul (AZUL4) parecem longe de acabar. Em meio a temores sobre a sustentabilidade financeira da companhia aérea, mais uma agência de classificação de risco acaba de rebaixar a perspectiva para a empresa.
Segundo fato relevante enviado à CVM na noite do último domingo (22), a Moody’s cortou na semana passada uma série de ratings de dívida corporativa da companhia aérea.
Confira os novos ratings:
- “Família corporativa” (que considera as dívidas da holding) : de Caa1 para Caa2 — apenas dois níveis acima do patamar mínimo considerado “calote” pela agência;
- Dívida sênior garantida por “primeira garantia” (first lien debt): de B3 para Caa1 — a três níveis do nível de calote;
- Dívidas seniores garantidas da Azul Sufued Finance LLP: de Caa1 para Caa2;
- Nota sênior não segurada da Azul Investments LLP: de Caa2 para Caa3 — um nível antes do calote.
Vale destacar que as obrigações classificadas como “Caa” são consideradas especulativas com baixo posicionamento e estão sujeitas a risco de crédito muito elevado.
Além dos ratings mais baixos, as perspectivas para os emissores também foram alteradas de positivas para negativas.
“A perspectiva negativa reflete o perfil de liquidez rígido de Azul e a dependência da empresa de renegociações adicionais com arrendadores ou iniciativas adicionais de refinanciamento que podem ser consideradas trocas angustiadas para permanecer solvente”, escreveu a agência.
Vale lembrar que a Moody’s não foi a única agência a cortar o rating de crédito da Azul. No início do mês, a S&P Global Ratings rebaixou a classificação de crédito de emissor em escala global e nacional, com perspectivas negativas.
O peso das incertezas sobre as finanças da Azul também se faz sentir na bolsa brasileira.
As ações AZUL4 iniciaram o pregão desta segunda-feira (23) em forte queda de 7,79%, a R$ 4,85, e acumulam desvalorização de 68% na B3 desde o início do ano. A companhia atualmente é avaliada em pouco mais de R$ 1,6 bilhão.
Por que a Moody’s rebaixou a Azul (AZUL4)
Segundo a Moody’s, o rebaixamento das classificações de Azul (AZUL4) vem na esteira de resultados mais fracos em 2024 com consistente queima de caixa, que aumentaram os riscos de liquidez da companhia.
A aérea gerou R$ 1,2 bilhão em Ebit (lucro antes de juros e impostos) — indicador usado para mensurar a geração de caixa — durante o primeiro semestre de 2024.
No entanto, as altas necessidades de capital de giro, o ônus da dívida e as despesas levaram a uma queima de caixa acumulada bilionária, de acordo com a agência.
“A Azul possui um balanço altamente alavancado e uma fraca cobertura de juros, que limitam a geração de fluxo de caixa livre (FCF) da empresa. A capacidade da companhia de aumentar a liquidez, refinanciar suas obrigações financeiras e controlar as necessidades de queima de caixa ou dinheiro permanecerá fundamental para avaliar sua classificação”, destacou a Moody’s.
A classificação também reflete a exposição da Azul à volatilidade do setor aéreo e os crescentes riscos macroeconômicos — e outro ponto que pressiona a visão da Moody’s é a exposição ao câmbio e aos preços de combustível.
Isso porque a maior parte da dívida e dos custos da Azul — e das empresas áreas de modo geral — é lastreada em dólar. Por esse motivo, uma depreciação da moeda local resulta em impactos diretos na companhia.
A situação financeira da Azul
A Azul atualmente encontra-se em “negociações ativas” com arrendadores de aeronaves para reestruturar dívidas.
As conversas fazem parte de um plano de otimização do capital acordado no ano passado, “cujos termos envolvem, dentre outros, uma potencial substituição de tal dívida por participação societária na Azul”.
Em meados de setembro, a Reuters informou que a Azul teria oferecido as ações da empresa aos credores como pagamento de cerca de US$ 600 milhões em dívidas.
O novo acordo também pode abrir as portas para novas captações de recursos com bondholders, detentores de títulos de dívida da companhia negociados no mercado internacional.
O que esperar da aérea
Nas contas da Moody’s, a Azul deve registrar uma geração de caixa operacional entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões até 2025, enquanto a empresa gerenciará a saída de caixa, atrasando a entrega de aeronaves para reduzir os gastos de capital e gerenciar a geração de caixa.
No entanto, a empresa ainda precisará refinanciar seus vencimentos de dívida para evitar uma queima de caixa significativa nos próximos anos.
A agência destacou que há possibilidade de revisão das classificações — desde que os riscos e incertezas fossem “significativamente” reduzidos e a demanda de passageiros exceda os níveis pré-pandemia de forma sustentável.
A companhia também precisaria continuar a melhorar a estrutura de capital, manter a liquidez adequada, com caixa consistente acima de 15% da receita e alavancagem abaixo de 6 vezes a relação dívida líquida sobre Ebitda.
Fonte: SeuDinheiro