A Heineken serviu nesta quarta-feira (23) aos investidores um balanço no estilo chope ‘pilsen’ com gosto de IPA: forte, amargo, mas com uma certa refrescância para os acionistas. E o “retrogosto” deve refletir na Ambev (ABEV3), que divulga o balanço no próximo dia 31.

Por mais que os números da cervejaria holandesa no terceiro trimestre tenham registrado avanço no comparativo com o mesmo período de 2023, o aumento foi “aguado”. 

Um exemplo foi a receita líquida orgânica, que chegou a 9,07 bilhões de euros entre julho e setembro, mas com uma alta de 3,3% na base anual — levemente acima do esperado pelo mercado. Do lado do lucro, a companhia não revelou as cifras.

Por sua vez, os volumes de cerveja consolidados, incluindo Heineken e mais de 300 outras marcas como Amstel, Red Stripe, Sol e Desperados, tiveram expansão orgânica de apenas 0,7% —  e caíram em duas das três maiores regiões da Heineken, a América e a Ásia. 

Se considerado somente o volume do portfólio premium, o avanço foi maior, de 4,5% no trimestre. Apenas na marca Heineken, os volumes aumentaram 8,7%.

“Nosso negócio continua a entregar resultados de acordo com nosso plano no geral, apesar de alguns mercados enfrentarem tendências desafiadoras de consumo e da indústria”, disse o presidente-executivo Dolf van den Brink, em comunicado à imprensa.

Vale lembrar que, no fim de julho, a Heineken decepcionou com um resultado e perspectivas nada animadoras que desceram quadrado no estômago dos investidores.

Com a frustração, as ações acumularam desvalorização de 14% na bolsa de valores de Amsterdam desde o início deste ano.

O que dizem os analistas

Na avaliação do Itaú BBA, os números de vendas da Heineken no terceiro trimestre superaram as previsões — mas o guidance para o ano permaneceu inalterado.

A projeção para o lucro líquido ajustado da Heineken — no padrão contábil “Beia”, antes de “itens excepcionais e amortização de ativos intangíveis” — foi de um aumento de 4% a 8% neste ano. 

No Brasil, a receita bruta da empresa cresceu em “um dígito médio”, apesar dos volumes não terem tido um crescimento relevante no trimestre. 

Segundo os analistas, a situação pode ser parcialmente explicada pela “premiumização” do portfólio da Heineken, com um aumento de quase 10% do volume no país. 

A relevância foi tamanha que o Brasil foi mencionado como um impulsionador-chave para o portfólio consolidado de cerveja premium, com destaque para a Amstel e a Heineken.

Heineken e Ambev: a briga das cervejas

Os resultados da Heineken costumam ser vistos de perto pelos analistas em busca de pistas para os números da Ambev (ABEV3), líder de mercado no Brasil.

Nas projeções do Itaú BBA, a cervejaria dona das marcas Brahma e Skol deve registrar volumes menores no terceiro trimestre. Vale lembrar que a companhia publicará o balanço do 3T24 em 31 de outubro. Você confere aqui o calendário completo de divulgações.

“As vendas menores do que o previsto da Ambev podem ser parcialmente atribuídas aos estoques construídos para uma sazonalidade mais forte no quarto trimestre”, projetaram os analistas. 

Já o BTG projeta um crescimento de volume de cerveja no Brasil de 3% na base anual, com avanço de 7% no faturamento em comparação com o terceiro trimestre do ano passado. 

No pregão desta quarta-feira, as ações da Ambev operavam em leve queda na bolsa. No ano, a desvalorização chega a 6%.

E agora, Ambev (ABEV3)?

Em meio a perspectivas fracas de curto prazo e a um aumento da concorrência como a Heineken e a Petrópolis, as ações da Ambev (ABEV3) não “matam a sede” dos analistas.

Segundo os analistas do Itaú BBA, ainda que o valuation medido pelo preço sobre lucro (P/L) de 13,5 vezes para o ano fiscal de 25 esteja mais barato do que antes,  não é suficiente para justificar uma posição positiva sobre o nome sem gatilhos claros.

“Revisões positivas de lucros e gatilhos de curto prazo prevaleceram como os tópicos mais comuns das discussões recentes, indicando um apetite reduzido pela tese de investimento da Ambev enquanto enfrenta uma competição mais acirrada da Petrópolis e da Heineken”, disse o banco. 

Afinal, a Petrópolis tem operado com preços cerca de 20% mais baixos dos principais pares do mercado para buscar ganhos de volume e diluição de custos. 

A pressão da Petrópolis é tamanha que os analistas do BTG Pactual projetam que a força da carteira da Ambev será testada.

“Admitimos que o perfil de risco-retorno da Ambev está melhorando, impulsionado por um valuation mais razoável e expectativas de lucros. No entanto, há uma batalha contínua de participação de mercado e a falta de catalisadores de curto prazo”, escreveram os analistas do BTG, que têm recomendação neutra para as ações da cervejaria.

Fonte: SeuDinheiro

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