Com a eleição de Donald Trump, o mercado passou a acompanhar com lupa os primeiros passos do republicano, que toma posse em 20 de janeiro, mas já está anunciando medidas controversas que devem afetar economias e empresas mundo afora — inclusive as brasileiras. 

Nesta semana, Trump disse que planeja assinar um decreto impondo uma tarifa de 25% sobre todos os produtos provenientes do México e do Canadá que entrarem nos EUA. 

A justificativa para essa medida seria o combate à imigração ilegal e ao tráfico de drogas, especialmente de fentanil, em níveis que ele considera sem precedentes nas duas fronteiras. 

Com o decreto, as tarifas permaneceriam em vigor até que os dois países reprimissem as substâncias e os imigrantes que cruzam a fronteira ilegalmente.

A tarifa de Trump vai pegar o Brasil?

Se a tarifa realmente for adiante, os analistas do BTG Pactual esperam um impacto limitado no setor de bens de consumo brasileiro. 

Entre as empresas cobertas pelo banco e mais expostas ao comércio EUA-México, os analistas estimam que a Tupy (TUPY3) poderia ter 11% das receitas impactadas. Já para a Weg (WEGE3), 8% do faturamento está exposto, e de 5% para a Iochpe (MYPK3).

No caso da metalúrgica brasileira Tupy, apenas 18% da receita é gerada no México, sendo que 11% dos produtos feitos por lá são vendidos para os Estados Unidos. 

Com relação à Weg, 5% das vendas vêm do México, mas apenas 8% são exportadas para os EUA. Sobre a Iochpe, 5% da receita vem do México, e 90% das vendas vão para os EUA. 

O BTG também menciona outras empresas, como a Randon (RAPT4), que sequer possui exposição às receitas no México, e a Fras-le (FRAS3), cuja receita proveniente do México representa apenas 2% do total. Além disso, a fabricante de autopeças não produz no país. 

Imposição de tarifas pode não acontecer

O BTG lembra, porém, que o tratado de comércio USMCA, sigla que significa Acordo Estados Unidos-México-Canadá — instaurado pelo próprio Trump no primeiro mandato — impede aumentos de tarifas unilaterais entre os países. 

“Vale ressaltar que, durante o primeiro mandato de Trump, ameaças semelhantes levaram a negociações sobre imigração, e as tarifas foram canceladas após um acordo”, afirma o BTG.

Mudanças no acordo USMCA?

Segundo analistas do BTG, a intenção de Trump pode ser vista como um primeiro passo para revisar o acordo, especialmente com o envolvimento do Canadá. 

Embora seja improvável que as tarifas afetem produtos comercializados dentro do USMCA, cerca de 50% do comércio entre os EUA e o México ocorre fora desse acordo, sob as regras da Organização Mundial do Comércio, tornando-se vulnerável a tarifas”, diz.

No entanto, na visão do BTG, dois fatores principais ajudam a mitigar esse risco:

  1. O peso mexicano já desvalorizou 25% em relação ao dólar desde as eleições de junho no México, o que mantém a competitividade do país mesmo com uma tarifa de 25%;
  2. O México é um grande importador de produtos dos EUA (o segundo maior, atrás apenas do Canadá), o que desestimula restrições comerciais severas.

Assim como em 2016, o México pode criar tarifas retaliatórias direcionadas a estados governados por republicanos, o que levaria a negociações e medidas mais brandas, na visão dos analistas. 

“Acreditamos que o USMCA permanecerá intacto, mas o México provavelmente fará concessões relacionadas a drogas e imigração”, afirma o BTG Pactual.

Além disso, Trump está dando dois meses para México e Canadá proporem soluções para evitar as tarifas, o que é positivo, pois oferece tempo para criar uma solução aceitável. 

Enquanto isso, os analistas esperam impactos limitados às companhias brasileiras devido à baixa exposição às vendas no México, já que apenas 6% das receitas totais são de lá. 

Fonte: SeuDinheiro

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