Ainda que a briga pelo varejo brasileiro continue acirrada, o Magazine Luiza (MGLU3) mostrou outra vez que segue no jogo — e entregou novos resultados acima das expectativas no segundo trimestre de 2024.
O Magalu registrou um lucro líquido de R$ 23,6 milhões entre abril e junho deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 301,7 milhões visto em igual intervalo de 2023, reflexo da “evolução do resultado operacional e da queda nas despesas financeiras”, segundo a empresa.
O montante ultrapassou as estimativas do mercado, que apontavam para um lucro de R$ 2,92 milhões, de acordo com as perspectivas compiladas pelo consenso Bloomberg.
O anúncio veio na esteira de uma surpresa positiva com o balanço dos rivais Casas Bahia (BHIA3), que registrou conseguiu quebrar a sequência de prejuízos e entregar lucro no segundo trimestre, e Mercado Livre (MELI34), que viu o lucro mais que dobrar no período.
Mas a melhora na lucratividade nem foi o grande destaque do balanço do Magalu. Na realidade, as principais estrelas do resultado da companhia no 2T24 foram a geração de caixa e o faturamento.
“Sem sombra de dúvidas, o grande destaque deste trimestre é a evolução dos resultados e das margens, no terceiro trimestre consecutivo que temos expansão de margem Ebitda, redução de despesas financeiras e lucro líquido”, afirmou Vanessa Rossini, diretora de relações com investidores (RI) do Magalu, em entrevista ao Seu Dinheiro.
BALANÇOS DAS CONSTRUTORAS
As estrelas do balanço do Magazine Luiza (MGLU3) no 2T24
Considerado um dos principais destaques do balanço, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) — usado pelo mercado para mensurar a geração de caixa de uma empresa — ajustado foi de R$ 710,7 milhões no trimestre.
O montante equivale a um aumento de 61,6% frente a igual período de 2023.
Já a margem Ebitda ajustada subiu 2,8 pontos percentuais (p.p) no trimestre, para 7,9% — a maior margem operacional da varejista desde 2019.
Na avaliação de Rossini, esse desempenho foi impulsionado pela evolução da margem bruta — que subiu para 30,9% no 2T24 —, além do crescimento da receita de serviços, com destaque para a Luizacred, a divisão financeira do Magalu.
Enquanto isso, a receita líquida total do Magazine Luiza somou R$ 9,01 bilhões no segundo trimestre de 2024, resultado da priorização de expansão de margens e foco em categorias mais rentáveis.
A cifra representa um leve aumento de 5,1% em relação ao mesmo período do ano passado — mas ainda está abaixo do esperado pelo mercado, de R$ 9,43 bilhões em receitas.
Assim como outras gigantes do e-commerce, a varejista decidiu migrar algumas categorias do 1P — vendas diretas de mercadoria própria online — para o 3P — produtos vendidos por terceiros — em busca de maior rentabilidade e redução da queima de caixa operacional.
“A decisão de focar na expansão das margens operacionais e no aumento da rentabilidade tem se mostrado muito assertiva, e nos fortalece ainda mais para continuar investindo nos projetos de longo prazo, que trarão, além do aumento da rentabilidade, mais crescimento de vendas”, afirmou a diretoria do Magalu, no balanço.
A parceria entre Magazine Luiza e AliExpress
É importante lembrar ainda que o Magalu anunciou no fim de junho uma parceria com o AliExpress, vista como “fundamental para o crescimento sustentável da plataforma”, segundo a diretoria.
Segundo o Magalu, a parceria com o Aliexpress “marca a entrada no cross border, com a oferta de produtos de ticket baixo e maior frequência de compra”.
Com o acordo, o AliExpress passa a vender nos canais digitais do Magalu itens da linha premium, que inclui produtos com melhor custo-benefício e menores prazos de entrega. Já o Magazine Luiza oferecerá seus produtos de estoque próprio (1P) na plataforma brasileira do AliExpress.
“É a primeira vez que o AliExpress vende itens em uma plataforma terceira no mundo e que o Magalu assume o papel de seller em outro marketplace”, disse a varejista.
Na avaliação da diretora de RI do Magalu, há chance de que a parceria — que será disponibilizada aos clientes nas próximas semanas — evolua para além da oferta de produtos, com potenciais iniciativas em logística, por exemplo.
Outros destaques do resultado
Por sua vez, a geração de caixa operacional do Magazine Luiza (MGLU3) nos últimos 12 meses foi de R$ 2,2 bilhões.
Com isso, o Magalu encerrou o trimestre com uma posição de caixa líquido de R$ 2 bilhões — um aumento em relação aos R$ 0,9 bilhão registrado no 2T23.
Já a dívida bruta dos últimos 12 meses encerrados em junho chegou a R$ 2,77 bilhões, enquanto as despesas financeiras foram 25% menores na comparação anual, apesar da antecipação de recebíveis no pagamento das dívidas de curto prazo. A alavancagem, medida pela relação caixa líquido ajustado sobre Ebitda ajustado, recuou para 0,3 vez.
Vale lembrar que, no trimestre passado, a varejista quitou R$ 2,1 bilhões em notas promissórias que venciam no fim de abril. Com isso, o Magalu passou a possuir apenas débitos de longo prazo, com vencimentos marcados para o fim do ano que vem e de 2026.
“Tudo o que foi construído nos últimos anos em evolução de resultados e expansão das margens nos deixa muito fortalecidos para lidar inclusive com um cenário de juros ainda elevados. A gente preparou a companhia para dar lucro mesmo com juros mais altos e agora tem espaço para explorar as oportunidades de crescimento nos próximos trimestres”, disse a diretora de RI.
Enquanto isso, o volume de vendas (GMV, indicador de volume de receita gerada nos canais digitais) total subiu 4,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para R$ 15,3 bilhões.
O desempenho foi resultado do aumento de 0,9% no e-commerce total e um crescimento de 14,2% nas lojas físicas, com “forte ganho de market share”, segundo o Magalu.
O perigo ainda não acabou
Apesar da melhora no lucro, o JP Morgan destaca que prefere evitar a exposição ao varejo brasileiro por meio de ações do Magazine Luiza (MGLU3) devido ao elevado patamar de endividamento e aos riscos do cenário competitivo.
Em relatório enviado antes da publicação do balanço do Magalu, os analistas afirmaram que a varejista continua sendo uma das empresas mais alavancadas da cobertura do banco.
Por isso que, na visão do banco norte-americano, as despesas financeiras da varejista devem seguir elevadas em meio a um cenário de juros mais elevados durante um período de tempo mais longo.
Além disso, o JP Morgan vê três principais cenários de intensificação da concorrência no mercado doméstico para o Magalu, considerando que os três principais rivais encontram-se no páreo para a disputa.
Afinal, segundo os analistas, a Americanas (AMER3) conseguiu manter as linhas de crédito durante a recuperação judicial, enquanto a Casas Bahia (BHIA3) reestruturou bilhões em dívidas com credores e players internacionais como Mercado Livre e Amazon (AMZN34) continuam a ganhar mercado no Brasil.
Fonte: SeuDinheiro