Mesmo que você não seja ligado ao cinema, é praticamente impossível ignorar o sucesso de “Ainda estou aqui”, que recebeu, junto com a atriz Fernanda Torres, indicações ao Globo de Ouro e flerta com o Oscar. Muito menos estelar do que o filme brasileiro, a decisão dos juros do Federal Reserve (Fed) desta quarta-feira (18) também será difícil de ser ignorada — especialmente por Donald Trump.
Na última reunião de 2024, o banco central norte-americano seguiu o roteiro: cortou os juros em 25 pontos-base (pb), devolvendo a taxa para o mesmo patamar de dezembro de 2022, colocando-a na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Pela segunda reunião consecutiva, um membro do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) discordou da decisao: a presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, votou para que o Fed mantivesse inalterada. Em novembro, Michelle Bowman não endossou o corte de 25 pb, na primeira vez que uma diretora votou contra uma decisão desde 2005.
Apesar de não ter sido unânime, o terceiro corte consecutivo dos juros na maior economia do mundo vem com um recado: o Fed ainda está aqui.
Só que diferente do filme, que conta uma história que todos nós já sabemos o final, o que acontece a partir de agora na política monetária dos EUA é uma incógnita — e muito tem a ver com o fato de as promessas de Trump para o segundo mandato terem o potencial de acelerar uma inflação que já dá sinais de reaquecimento.
A reação da plateia foi digna de um filme arrasa-quarteirão. Wall Street passou a operar no vermelho, com o S&P 500 e o Nasdaq recuando 0,64% e 0,68%, respectivamente, e o Dow Jones baixando 0,56%.
Por aqui, o dólar no mercado à vista renovou máxima ao atingir R$ 6,2532 (+2,45%), enquanto o Ibovespa foi na mínima do dia, aos 121.698,11 pontos (-2,41%).
“Ainda estou aqui” é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, em que ele conta a história da própria família — portanto, seu sucesso nada tem a ver com um desfecho surpreendente ou inesperado.
Ainda assim, qualquer um que assista o filme não quer spoiler — algo bem diferente da decisão do Fed de hoje. Tudo o que o mercado deseja é saber o que o aguarda em 2025 — no caso da política monetária, surpresas nunca são bem-vindas.
A decisão de hoje veio acompanhada das últimas projeções econômicas do Fomc do ano — e elas dizem muito sobre o que pode acontecer a partir de 2025 nos EUA de Trump.
O ponto alto das projeções é o dot plot. O chamado gráfico de pontos dá uma ideia do que os membros do Fomc esperam para os juros na maior economia do mundo.
Ao entregar o corte de 25 bp de hoje, o Fed indicou que provavelmente reduzirá a taxa apenas mais duas vezes em 2025 — uma projeção que caiu pela metade em relação às intenções do comitê quando o dot plot foi atualizado pela última vez, em setembro.
Assumindo elevações de 25 bp, as autoridades indicaram mais dois cortes em 2026 e outro em 2027. No longo prazo, o comitê vê a taxa de juros neutra — aquela que não superaquece e nem esfria a economia — em 3%, 0,1 ponto percentual a mais do que a atualização de setembro.
*Conteúdo em atualização
Fonte: SeuDinheiro