Falar em intervenção nos mercados é quase um pecado entre os chamados “libertários”. Considerado porta-estandarte dos seguidores dessa corrente econômica, é possível que o governo do presidente da Argentina, Javier Milei, tenha cometido essa heresia neste sábado (13).
Em uma tentativa desesperada de frear a alta do dólar, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou hoje que o país venderá dólares no mercado paralelo para “esterilizar” a emissão equivalente de pesos em transações cambiais.
Em publicação no X, antigo Twitter, Caputo não usa a palavra intervenção. Ele afirma que o objetivo é interromper a expansão da base monetária argentina e “exterminar a inflação para sempre no país”.
Segundo ele, se o Banco Central da República Argentina (BCRA) comprar dólares no mercado de câmbio oficial, a emissão equivalente de pesos será esterilizada pela venda de dólares equivalentes no “mercado de contado con liquidação”, conhecido como “mercado paralelo” ou “dólar blue“.
Governo Milei vai começar a intervir no câmbio na segunda-feira
As operações de vendas de dólares no mercado paralelo terão início na segunda-feira (15).
O processo foi classificado pelo governo do presidente Javier Milei como “aprofundamento da política monetária”.
O anúncio da medida ocorre um dia depois de dados da agência de estatísticas da Argentina, conhecida como Indec, apontarem que a inflação acumulada em 12 meses ultrapassou a marca de 270% em junho, impulsionando o dólar blue a seu maior nível histórico.
O dólar blue bateu 1.500 pesos no fim da tarde de sexta-feira, conforme o jornal Ámbito Financiero.
Em entrevistas concedidas a emissoras argentinas de televisão, Milei negou que o governo esteja em pânico. No entanto, ele admitiu que “há uma anomalia porque o dólar está subindo e nós estamos comprando dólares”.
Ministro de Milei não fala em intervenção…
Em postagem separada, Caputo esclareceu que nada mudará na taxa de câmbio da Argentina, somente a relação de emissão de pesos.
“Em outras palavras, a quantidade de pesos não crescerá mais. Ela apenas diminuirá”, afirmou o ministro.
“Como temos dito desde janeiro, o peso passará a ser a moeda em demanda pela população, visto que os impostos continuarão a ser pagos em pesos.”
De acordo com Caputo, o superávit primário também deve contribuir para reduzir a quantidade de pesos.
“Em seis meses, acabamos com o déficit fiscal, o déficit quase fiscal e a emissão monetária”, escreveu. “Consequência: vamos exterminar a inflação para sempre na Argentina.”
… mas Cristina fala
Se o governo Milei evitou falar em intervenção, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner aproveitou a deixa.
“Deixe de enlouquecer seu seguidores liberais libertários que estão aparecendo com interpretações esotéricas e diga a eles a verdade: que você vai utilizar as reservar do BCRA para intervir no mercado de câmbio”, disse Cristina, citada pelo jornal Página 12.
*Com informações do Estadão Conteúdo, do Ámbito Financiero e do Página 12.
Fonte: SeuDinheiro