O xadrez geopolítico entre a China e os Estados Unidos acaba de ganhar um novo contorno. O Ministério do Comércio chinês anunciou sanções contra a Boeing e outras duas empresas norte-americanas pela venda de armas a Taiwan.

O Ministério colocou a unidade de Defesa, Espaço e Segurança da Boeing, a General Atomics Aeronautical Systems e a General Dynamics Land Systems, na lista de “entidades não confiáveis”.

“Tais medidas estão sendo tomadas para salvaguardar os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento nacionais da China”, disse a pasta, em comunicado.

Com a decisão, as companhias serão impedidas de se envolver em atividades de importação ou exportação relacionadas à China e estarão proibidas de fazer novos investimentos na China futuramente — e a alta administração dessas empresas também estará banida de viagens para o país.

A medida é a mais recente de uma série de sanções anunciadas pelo Gigante Asiático nos últimos anos contra companhias de defesa pela venda de armamento a Taiwan — uma ilha autogovernada que a China considera como parte do seu próprio território.

Já Lai Ching-te, o novo presidente de Taiwan, que assumiu a posição nesta segunda-feira (20), prometeu fortalecer a segurança da ilha através da importação de caças avançados e outras tecnologias e do fortalecimento da sua indústria de defesa interna.

É importante lembrar que a eleição de um novo líder em Taiwan, em meados de janeiro deste ano, carregava consequências geopolíticas relevantes para a dinâmica no Estreito de Taiwan e as relações entre as duas maiores potências econômicas do planeta.

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China vs. EUA: o papel de Taiwan

Vale ressaltar que Taiwan desempenha um papel estratégico crucial, sendo um centro vital na produção de semicondutores de ponta. Além disso, sua localização no Pacífico, próxima à costa chinesa, é fundamental nas dinâmicas militares entre os dois países.

“Não importa como a situação política na ilha de Taiwan mude, nada mudará os fatos históricos e legítimos de que ambos os lados através do Estreito de Taiwan pertencem a uma China, nem a tendência histórica que a China será finalmente reunificada”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda-feira (20).

A China tem realizado exercícios militares regulares em torno da ilha — sobrevoando com caças e navegando em navios de guerra perto da região — nos últimos anos para pressionar Taiwan a aceitar a reivindicação de soberania de Pequim.

Além disso, Taiwan é exatamente a peça que falta para que a China complete seu quebra-cabeça de reunificação, em busca do conceito de “Uma Só China”. 

O rompimento aconteceu em 1949. Desde então, o dragão asiático reivindica Taipé como parte integrante de seu território, alegando que a ilha é uma província separatista e será reincorporada.

Atualmente, Taiwan é plenamente reconhecido por pouco mais de uma dúzia de países. Nem mesmo os EUA mantêm relações diplomáticas plenas com Taipé nem reconhece formalmente o governo.

As sanções da China 

Em abril, a China congelou ativos da General Atomics Aeronautical Systems, que fabrica sistemas aéreos não tripulados, e da General Dynamics Land Systems, fabricante de veículos militares, mantidos no país.

De acordo com números operacionais da empresa, a General Dynamics opera meia dúzia de operações da subsidiária de jatos executivos Gulfstream e outros serviços de aviação na China — que continua fortemente dependente de tecnologia aeroespacial estrangeira.

A companhia estaria vendendo os jatos Gulfstream para Taiwan, além de ajudar a fabricar o tanque Abrams, que está sendo adquirido pela ilha a fim de resistir a uma invasão da China.

Já a General Atomics produz drones Predator e Reaper usados ​​pelos militares dos EUA — mas não se sabe quais armas a companhia vende para Taiwan, se vender de fato.

Na época, Pequim afirmou que a venda de armas “interferia seriamente” nos seus assuntos internos e “prejudicava” a soberania e a integridade territorial da China.

“A contínua venda de armas pelos Estados Unidos à região chinesa de Taiwan é uma violação grave do princípio de Uma Só China e das disposições dos três comunicados conjuntos dos Estados Unidos e da China”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores chinês.

Há dois anos, a China anunciou sanções contra Ted Colbert, CEO da Boeing Defesa, Espaço e Segurança, depois que a empresa ganhou um contrato de US$ 355 milhões para fornecer mísseis para Taiwan.

Vale lembrar que a empresa não vende produtos de defesa para a China, mas possui um negócio robusto de aviação comercial no país.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, o provável impacto das sanções da China sobre empresas como a Boeing não é claro. 

Afinal, os Estados Unidos já proíbem a maior parte das vendas de tecnologia militar à China, mas algumas empresas do segmento também possuem negócios na indústria aeroespacial e outros mercados.

*Com informações de Reuters, AP e Xinhua.

Fonte: SeuDinheiro

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