Quando Jerome Powell subiu ao palco do Simpósio de Jackson Hole em 25 de agosto do ano passado, fez um discurso muito aguardado intitulado “Inflação: progresso e o caminho à frente” no qual reiterou a meta de 2% do Federal Reserve (Fed) e o compromisso do banco central norte-americano em alcançar esse alvo — na ocasião, a inflação era quase o dobro do objetivo. 

Um ano depois, o mesmo Powell sobe nesta sexta-feira (23) ao palco do principal evento global de política monetária com a inflação medida pelo índice de preços para gastos pessoais (PCE, a métrica preferida do Fed) em 2,5% e todo o mercado esperando pelo sinal verde do chefão do BC dos EUA para o corte de juros

“Jackson Hole é a oportunidade para o presidente do Fed, Jerome Powell, dar as boas-vindas às tendências recentes de inflação”, disse o chefe global de mercados do ING, Chris Turner. 

Segundo ele, agora que a inflação está sob controle nos EUA, a atenção do mercado estará voltada diretamente para a velocidade do corte de juros que o banco central norte-americano pretende implantar até o final do ano. 

Juros: neste caso, o tamanho importa

Não há mais dúvidas entre os agentes do mercado de que o Fed vai cortar os juros quando se reunir em 17 e 18 de setembro. A questão agora é a magnitude dessa redução. 

“Esperamos que Powell dê o sinal mais claro até agora de que haverá flexibilização em setembro e em mais uma reunião este ano”, escreveu o economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson, em relatório.

Dados compilados pela ferramenta FedWatch do CME Group mostram, desde meados de julho, 100% de chance de o ciclo de afrouxamento monetário começar em setembro nos EUA. 

No entanto, há uma divisão entre os traders sobre o tamanho do corte no encontro: 70% deles apostam em uma redução de 25 pontos-base (pb), o que colocaria os juros na faixa entre 5,00% e 5,25% ao ano. 

Os 30% restantes são mais arrojados e enxergam uma diminuição maior, de 50 pb, colocando a taxa referencial entre 4,75% e 5,00% ao ano. 

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Essa tal confiança

Nos últimos meses, a mensagem de Powell ao mercado tem sido clara: o Fed precisa de confiança para começar a cortar os juros. 

Repetidamente, ele disse que recebia com bons olhos a desaceleração da inflação nos EUA, mas precisava entender se essa era uma tendência que se sustentaria ao longo do tempo. 

Segundo especialistas consultados pelo Seu Dinheiro, Powell deve indicar hoje que há mais confiança na trajetória da inflação na direção de 2% — e parte deles lembra que o próprio Powell afirmou que não é necessário esperar que os preços atinjam essa meta para que o ciclo de corte de juros comece.

O economista da TD Economics, Andrew Foran, cita dados que ajudam a construir a confiança que o Fed precisa para cortar os juros. 

“Enquanto a métrica de inflação preferida do Fed, o PCE, ficou em 2,5% em julho, o momentum na inflação do CPI [índice de preços ao consumidor] continua a indicar que as pressões inflacionárias diminuirão ainda mais no futuro”, disse Foran. 

“Essa tendência também foi evidenciada pelo índice de preços ao produtor [PPI], que vinha aumentando no primeiro semestre do ano, mas já mostra a reversão dessa tendência e que, se  sustentada, proporcionará mais alívio aos preços ao consumidor daqui para frente”, afirma. 

Segundo Foran, em conjunto, as tendências de julho para inflação do PPI e do CPI apoiam o caso para o Federal Reserve começar a reduzir gradualmente os juros a partir da reunião de setembro.

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Emprego, recessão e bolsa

Se, do lado da inflação, há confiança para o Fed começar a cortar os juros em setembro, do lado do emprego, a coisa é um pouco diferente. 

Por mais de um ano, o banco central norte-americano deixou de lado o mercado de trabalho — que compõe, com a estabilidade de preços, o mandato duplo concedido pelo Congresso. 

A razão era prática: a economia dos EUA seguia crescendo, criando vagas, a taxa de desemprego caía e, ainda que houvesse problemas de contratação de mão de obra qualificada, a inflação batendo em dois dígitos precisava ser combatida com mais urgência. 

Por isso, o Fed gastou a maior parte dos esforços em trazer a inflação para próximo da meta. Só que, agora, o mercado de trabalho norte-americano acendeu a luz de alerta dos investidores — o payroll de julho derrubou bolsas ao redor do mundo e trouxe de volta o fantasma da recessão. O Seu Dinheiro contou essa história em detalhes na ocasião. 

“Jackson Hole acontece logo após um relatório de emprego notavelmente mais fraco divulgado do início de agosto, que gerou preocupações sobre uma possível recessão e levou os investidores a especular sobre o futuro dos cortes de juros nos EUA. No entanto, dados subsequentes, incluindo uma desaceleração na inflação e um relatório robusto de vendas no varejo, moderaram as expectativas, reduzindo os temores de um corte substancial de 50 bp em setembro”, disse o chefe de estratégia de juros do Bank of America, Mark Cabana. 

Segundo ele, Powell deve indicar uma possível redução na taxa em Jackson Hole, mas sem assumir um compromisso firme

“Embora Powell possa não se comprometer com um grande corte, também não deve descartar a possibilidade da redução da taxa se as condições econômicas justificarem”, afirmou. 

Para o economista internacional do ING, James Knightley, um novo dado de emprego fraco, com alta do desemprego, garantiriam um corte de 50 bp. “Um número forte de emprego e talvez uma queda na taxa de desemprego de volta para 4,2% deixam o corte de 25 bp sobre a mesa”, disse. 

O próximo payroll será divulgado em 6 de setembro. Hoje, no entanto, Powell terá a chance de esclarecer o futuro da política monetária na maior economia do mundo. Ele discursa às 11h (de Brasília) no Simpósio de Jackson Hole e o Seu Dinheiro trará os principais pontos para você.

Fonte: SeuDinheiro

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