Os ADRs (American Depositary Receipts, ou recibo de ações negociados na Bolsa de Nova York) da Petrobras (PETR3;PETR4) dão o prenúncio de uma quarta-feira (15) bastante negativa para as ações da companhia estatal.

O movimento de queda ocorreu por volta das 20h40 (horário de Brasília, 19h40 de NY), após surgirem os rumores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria demitido o presidente da estatal, Jean Paul Prates, sendo a notícia divulgada pelo jornal O Globo e que foi noticiada posteriormente por outros veículos de imprensa. Os papéis PBR, equivalente aos ordinários, com maior liquidez em Nova York, chegaram a cair 8% no after market.

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O jornal O Globo e o Broadcast ainda noticiaram que Lula nomearia Magda Chambriard como nova presidente da Petrobras (o que foi confirmado no fim da noite).

Mais tarde, a Petrobras confirmou a notícia de saída de Prates da presidência da estatal, “de forma negociada”, sem menções a nomes para a sucessão.

“A Petrobras informa que recebeu nesta noite de seu Presidente, Sr. Jean Paul Prates, solicitação de que o Conselho de Administração da companhia se reúna para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como Presidente da Petrobras de forma negociada. Adicionalmente, o Sr. Jean Paul informou que, se e uma vez aprovado o encerramento indicado, ele pretende posteriormente apresentar sua renúncia ao cargo de membro do Conselho de Administração da Petrobras. Fatos julgados relevantes serão tempestivamente divulgados ao mercado”.

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Às 21h (de Brasília), os papéis PBR encerraram as negociações no pós-mercado de NY com queda de 6,89% (US$ 15,54), enquanto os PBR-A (equivalentes aos preferenciais) tiveram baixa de 5,48% (US$ 15).

Posteriormente, com o after market já tendo encerrado as negociações, a Petrobras confirmou que o governo vai nomear Magda Chambriard para comandar a estatal. A indicação será submetida aos procedimentos internos de governança corporativa, afirmou a petroleira em fato relevante.

Repercussões no mercado

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A saída de Prates e as notícias de sucessão já têm repercussão no mercado. Para Flavio Conde, head de análise da Levante, a demissão de Prates “é péssima”, não tanto pelo nome da sucessora, mas principalmente porque mostra que a interferência política é enorme na companhia, o que em parte está precificado pelo mercado por conta do grande desconto em relação a outras petroleiras. “Concordo com o ex-conselheiro da Petrobras, Marcelo Mesquita, não pode uma companhia ter oito presidentes em quatro anos. O corpo diretivo da Petrobras é ótimo (…) e eles mesmos não mereciam ter uma mudança tão frequente de presidente como aconteceu na época do [ex-presidente Jair] Bolsonaro e na época agora do Lula”, avalia.

Para a Ativa, sem entrar no mérito da nova escolhida, a visão também é de uma decisão negativa, uma vez que Prates vinha desempenhando o que classifica como um bom papel na companhia, equilibrando os interesses econômicos e políticos da empresa com sabedoria.

“Hoje nos resultados do 1T24, quando participou apenas via vídeo, Prates ressaltou seu compromisso com a remuneração do investidor e o investimento em ativos de petróleo, o que voltará a ficar sob reavaliação após a nova mudança de gestão. Aguardaremos novas notícias mas, por ora, vale destacarmos o caráter negativo desta decisão, que ratifica, como dissemos em nosso informe de resultados mais cedo, o maior risco político da empresa e nossa recomendação apenas neutra para as suas ações”, aponta a equipe de análise da corretora.

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Frederico Nobre, líder de análise da Warren, aponta que, caso o nome de Magda se confirme, uma dirigente com viés mais desenvolvimentista deve assumir o comando da estatal, sendo que ela já criticou a dinâmica de dividendos da Petro. “É um nome que vai ser mal visto pelo mercado. Prates era uma pessoa do setor, sensato e que era aceito pelo mercado. Então é bem ruim a sinalização”, conclui.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que já era evidente um desgaste significativo no âmbito político envolvendo Jean Paul Prates e os demais ministros. Embora Prates tenha sido nomeado presidente da Petrobras com a expectativa de promover mudanças substanciais na gestão e no foco estratégico da empresa, observa-se trimestre após trimestre que tais expectativas não se concretizaram. “É pertinente destacar que nos últimos meses tem sido observada uma defasagem relevante no preço da gasolina, evidenciando que Jean Paul Prates não adotou uma postura completamente desvinculada de influências políticas na sua gestão”, aponta Cruz.

No entanto, o presidente Lula e seus aliados entenderam que era necessário um direcionamento mais assertivo, com maior ênfase em anúncios de investimentos e geração de empregos diretos pela Petrobras. A respeito da substituição em si, ainda não há uma compreensão clara das mudanças que serão implementadas. “Embora tenha sido mencionada a possibilidade de exploração na costa da Namíbia e da África do Sul, é consenso que o pré-sal continua sendo a área de maior relevância para a expertise da Petrobras. No entanto, a defesa de alguns políticos por investimentos na indústria naval e a retomada de obras sem sucesso geram preocupações, pois não se alinham com as estratégias viáveis para a empresa”, avalia o estrategista.

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Para Cruz, resta aguardar se a nova gestão estará alinhada com as expectativas do presidente Lula e seus aliados, ou se seguirá uma abordagem semelhante à anterior. “O último ano foi um teste para a governança da Petrobras em diversos aspectos, demonstrando que, apesar das tentativas de interferência política, parte das diretrizes da empresa foi mantida, embora seja necessário reconhecer que em certos aspectos, como a defasagem nos preços dos combustíveis, houve falhas na implementação”, aponta.

Fonte: InfoMoney

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