Com a nova escalada da taxa básica de juros no Brasil e a pressão negativa sobre os ativos de risco, a renda fixa conservadora está voltando a brilhar. Nesta quarta-feira (06), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a meta da Selic em mais 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, em linha com as expectativas do mercado.
Diante da pressão inflacionária, da alta do dólar e do risco fiscal elevado, o BC se vê obrigado a apertar a política monetária num momento em que vemos cortes de juros no mundo desenvolvido.
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, no entanto, pode levar o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, a cortar os juros em menor intensidade do que se esperava.
Isso porque as promessas de cortes de impostos e tarifação de importações por parte do novo presidente tendem a pressionar o fiscal e a inflação nos EUA, talvez exigindo juros ainda altos.
Mas o que leva o mercado a realmente esperar novos aumentos na Selic são as preocupações em relação ao fiscal doméstico. Enquanto o pacote de cortes de gastos prometido pelo governo não é anunciado, o mercado já projeta juros acima de 13% em alguns vencimentos das taxas DIs futuras.
Com os gastos governamentais turbinando a economia e aquecendo a inflação, recentemente os economistas de mercado passaram a projetar um IPCA em 2024 acima do teto da meta, de 4,50%.
As projeções do último Boletim Focus do Banco Central são de uma inflação de 4,59% neste ano e uma Selic de 11,75% em dezembro, prevendo mais uma alta de 0,5 ponto percentual nos juros na última reunião do Copom de 2024.
Embora o Focus veja a Selic recuando de volta para 11,50% até o final do ano que vem, antes disso a taxa básica pode subir ainda mais. As apostas do mercado apontam na direção de uma Selic acima de 12% no seu ponto mais alto deste ciclo de alta.
O que a alta da Selic representa para a sua reserva de emergência e os demais investimentos de renda fixa
A Selic em patamares mais elevados também tende a aumentar a remuneração das aplicações de renda fixa pós-fixadas, aquelas cuja remuneração é indexada a uma taxa de juros – a Selic ou a taxa DI, que costuma acompanhar a taxa básica.
Entre os ativos com essa característica estão os investimentos mais conservadores, incluindo aqueles indicados para a reserva de emergência, como é o caso do título público Tesouro Selic, negociado no Tesouro Direto; dos fundos de taxa zero que investem em Tesouro Selic, do tipo Selic Simples; e dos CDBs de grandes bancos com liquidez diária.
Com as novas altas de juros esperadas para as próximas reuniões, a rentabilidade dessas aplicações ficará ainda mais atrativa. Fora que os investimentos pós-fixados também atuam como portos seguros em momentos de alta de juros, que podem aumentar a volatilidade dos ativos mais arriscados.
No caso da renda fixa prefixada e indexada à inflação, o avanço recente dos juros futuros, na expectativa de novos aumentos da taxa Selic, vem derrubando os preços dos títulos.
Por outro lado, essa mesma alta contribui para elevar as remunerações desses papéis, permitindo aos investidores adquiri-los a um preço mais baixo e, portanto, com uma expectativa de retorno no vencimento ainda maior.
Com isso, os títulos públicos prefixados (Tesouro Prefixado) voltaram a remunerar acima de 12,7% ao ano, o equivalente a mais de 1% ao mês, o “número mágico” do investidor brasileiro. Já os papéis atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) vêm oferecendo remunerações de quase 7% ao ano + IPCA para quem os adquirir agora.
A mudança na Selic não altera a regra de remuneração da poupança, que continua pagando seu tradicional 0,50% ao mês mais Taxa Referencial (TR).
Embora a TR tenda a aumentar ligeiramente com a alta na taxa básica, a elevação dos juros torna a caderneta menos atrativa que as demais aplicações de renda fixa pós-fixadas, já que as remunerações destas tendem a subir, enquanto a da poupança tem uma espécie de teto.
Com a Selic em 11,25% ao ano (e supondo um CDI um pouco inferior, de 11,15%, como costuma acontecer), as rentabilidades mensais e anuais líquidas das principais aplicações financeiras conservadoras ficam assim:
Investimento | Retorno líquido em 1 mês* | Retorno líquido em 1 ano** |
Poupança | 0,60% | 7,41% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 0,66% | 9,11% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 0,69% | 9,20% |
CDI bruto | 0,88% | 11,15% |
Parâmetros da simulação
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de outubro de 2024 (0,0977%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma taxa de administração igual a zero, o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento) e uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre todo o montante investido, que é o padrão da calculadora do Tesouro Direto. Atualmente, no entanto, existe uma isenção da taxa de custódia para valores aplicados de até R$ 1 mil, o que significa que a verdadeira rentabilidade do Tesouro Selic, nesses casos, é um pouco maior que a estimada na tabela.
Como a Selic deve subir mais neste ano, ela não ficará estagnada em 11,25% por muito tempo. Ou seja, até o fim do ano, a rentabilidade das aplicações conservadoras será ainda maior que os valores projetados na tabela.
Assim, para dar uma ideia melhor de como ficará a rentabilidade dos investimentos conservadores daqui para frente, vamos simular a aplicação para os prazos de um e dois anos utilizando as estimativas do mercado para a Selic e o CDI (DI futuro) para novembro de 2025 (12,80%) e setembro de 2026 (13,00%), respectivamente.
Repare que ambas as previsões já precificam uma Selic maior que a atual, estimando que o BC vai aumentar ainda mais a taxa básica de juros.
Vale frisar, no entanto, que essas projeções podem mudar a partir da decisão do Copom de hoje, bem como das sinalizações do Banco Central para as próximas reuniões. Além disso, as projeções para a poupança continuam considerando a TR de outubro, que também pode mudar daqui para a frente.
Investimento | Retorno líquido em 1 ano* | Retorno líquido em 2 anos** |
Poupança | 7,41% | 15,38% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 10,47% | 23,38% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 10,56% | 23,54% |
LCI 90% do CDI | 11,45% | 24,61% |
Parâmetros da simulação
- DI para novembro de 2025 (simulação de 1 ano): 12,80% a.a.
- Selic para novembro de 2025 (simulação de 1 ano): 12,90% a.a.
- DI para setembro de 2026 (simulação de 2 anos): 13,00% a.a.
- Selic para setembro de 2026 (simulação de 2 anos): 13,10% a.a.
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de outubro (0,0977%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma aplicação de R$ 100 mil, taxa de custódia de 0,20% ao ano, uma taxa de administração igual a zero e o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento).
Veja, na tabela a seguir, quanto você teria ao final de cada período caso aplicasse R$ 100 mil em cada um desses investimentos, nas circunstâncias da simulação anterior:
Investimento | Quanto você teria após 1 ano | Quanto você teria após 2 anos |
Caderneta de poupança | R$ 107.412,94 | R$ 115.375,40 |
Tesouro Selic 2027 | R$ 110.466,42 | R$ 123.378,17 |
CDB ou fundo Tesouro Selic 100% do CDI | R$ 110.560,00 | R$ 123.536,50 |
LCI 90% do CDI | R$ 111.449,81 | R$ 124.607,31 |
Fonte: SeuDinheiro