Em sua última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) acelerou a alta da Selic em 1,00 ponto percentual, elevando a taxa básica de juros para 12,25% ao ano e tornando a renda fixa pós-fixada — aqueles ativos indexados à Selic ou ao CDI — ainda mais rentável e atrativa.

O aumento veio em linha com as mais recentes projeções do mercado. Até a divulgação do decepcionante pacote de cortes de gastos do governo pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim de novembro, a expectativa era de um aumento de apenas 0,50 ponto percentual.

Até então o Banco Central já vinha sendo obrigado a apertar a política monetária em face da economia aquecida (estimulada pelo gasto público) e do consequente retorno das pressões inflacionárias.

Porém, após a divulgação do pacote junto com o anúncio da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, essas pressões aumentaram ainda mais, com a elevação da percepção de risco fiscal e a disparada do dólar para mais de R$ 6.

A curva de juros futuros, que influencia o retorno dos investimentos de renda fixa prefixada e indexada à inflação, chegou a precificar Selic em 15% ao ano ao final de 2025, e agora projeta uma Selic terminal (ao final do ciclo de alta) superior a 14% ao ano na mesma data. Já os economistas ouvidos pelo Boletim Focus do Banco Central veem a taxa básica em 13,50% ao final de 2025.

Ou seja, a Selic deve continuar subindo nas próximas reuniões do Copom, até porque agora os economistas já projetam uma inflação acima do teto da meta tanto em 2024 quanto em 2025. O entendimento geral do mercado é de que, diante do descontrole fiscal, o ajuste terá que ser feito via política monetária.

O que a alta da Selic representa para a sua reserva de emergência e os demais investimentos de renda fixa

A Selic em patamares mais elevados tende a aumentar a remuneração das aplicações de renda fixa pós-fixadas.

É o caso dos títulos públicos Tesouro Selic; dos títulos bancários CDBs, LCIs e LCAs, quando indexados ao CDI; dos títulos de crédito privado como debêntures, CRIs e CRAs indexados ao CDI; e dos fundos que investem nesses tipos de papéis.

Alguns desses investimentos estão entre os mais conservadores do mercado brasileiro, sendo inclusive indicados para a reserva de emergência.

Por exemplo, os títulos Tesouro Selic, negociados no Tesouro Direto; os fundos de taxa zero que investem em Tesouro Selic, do tipo Selic Simples; e os CDBs de grandes bancos com liquidez diária.

Com as novas altas de juros esperadas para as próximas reuniões, a rentabilidade dessas aplicações deve ficar ainda mais atrativa.

Fora que os investimentos pós-fixados também atuam como portos seguros em momentos de alta aversão a risco, como o atual, em que a disparada dos juros futuros e a deterioração das expectativas pesa negativamente sobre os preços dos ativos de risco.

No caso da renda fixa prefixada e indexada à inflação, o avanço recente dos juros futuros, na expectativa de novos aumentos da taxa Selic, vem derrubando os preços dos títulos.

Por outro lado, essa mesma alta contribui para elevar as remunerações desses papéis, permitindo aos investidores adquiri-los a um preço mais baixo e, portanto, com uma expectativa de retorno no vencimento ainda maior.

Com isso, os títulos públicos prefixados (Tesouro Prefixado) já remuneram em torno de 14% ao ano, precificando uma forte alta da Selic e superando o retorno “mágico” de 1% ao mês que o brasileiro tanto adora.

Já os papéis atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) vêm oferecendo remunerações em torno de 7% ao ano + IPCA para quem os adquirir agora e os levar ao vencimento.

A mudança na Selic não altera a regra de remuneração da poupança, que continua pagando seu tradicional 0,50% ao mês mais Taxa Referencial (TR).

Embora a TR tenda a aumentar ligeiramente com a alta na taxa básica, a elevação dos juros torna a caderneta menos atrativa que as demais aplicações de renda fixa pós-fixadas, já que as remunerações destas tendem a subir, enquanto a da poupança tem uma espécie de teto.

Com a Selic em 12,25% ao ano (e supondo um CDI um pouco inferior, de 12,15%, como costuma acontecer), as rentabilidades mensais e anuais líquidas das principais aplicações financeiras conservadoras ficam assim:

Investimento Retorno líquido em 1 mês* Retorno líquido em 1 ano**
Poupança 0,56% 6,99%
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) 0,72% 9,92%
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero 0,74% 10,02%
CDI bruto 0,96% 12,15%
(*) 1 mês, no caso da poupança, ou 21 dias úteis e mais de 30 dias corridos para os demais investimentos. Alíquota de IR de 22,5%, quando for o caso. (**) 12 meses, no caso da poupança, ou 252 dias úteis e mais de 360 dias corridos para os demais investimentos. Alíquota de IR de 17,5%, quando for o caso.

Parâmetros da simulação

  • Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de novembro de 2024 (0,0649%);
  • Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma taxa de administração igual a zero, o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento) e uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre todo o montante investido, que é o padrão da calculadora do Tesouro Direto. Atualmente, no entanto, existe uma isenção da taxa de custódia para valores aplicados de até R$ 1 mil, o que significa que a verdadeira rentabilidade do Tesouro Selic, nesses casos, é um pouco maior que a estimada na tabela.

Como a Selic deve subir mais no próximo ano, ela não ficará estagnada em 12,25% por muito tempo. Ou seja, até o fim de 2025, a rentabilidade das aplicações conservadoras pode ser ainda maior que os valores projetados na tabela.

Assim, para dar uma ideia melhor de como ficará a rentabilidade dos investimentos conservadores daqui para frente, vamos simular a aplicação para os prazos de um e dois anos utilizando as estimativas do mercado para a Selic e o CDI (DI futuro) para janeiro de 2026 (14,26%) e janeiro de 2027 (14,49%), respectivamente.

Repare que ambas as previsões já precificam uma Selic maior que a atual, estimando que o BC vai aumentar ainda mais a taxa básica de juros.

Vale frisar, no entanto, que essas projeções podem mudar a partir da decisão do Copom de hoje, bem como das sinalizações do Banco Central para as próximas reuniões. Além disso, as projeções para a poupança continuam considerando a TR de novembro, que também pode mudar daqui para a frente.

Investimento Retorno líquido em 1 ano* Retorno líquido em 2 anos**
Poupança 6,99% 14,48%
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) 11,66% 25,79%
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero 11,76% 26,42%
LCI 90% do CDI 12,75% 27,58%
(*) 12 meses, no caso da poupança, ou 252 dias úteis e mais de 360 dias corridos para os demais investimentos. Alíquota de IR de 17,5%, quando for o caso. (**) 24 meses, no caso da poupança, ou 504 dias úteis e mais de 720 dias corridos para os demais investimentos. Alíquota de IR de 15,0%, quando for o caso.

Parâmetros da simulação

  • DI para janeiro de 2026 (simulação de 1 ano): 14,26% a.a.
  • Selic para janeiro de 2026 (simulação de 1 ano): 14,36% a.a.
  • DI para janeiro de 2027 (simulação de 2 anos): 14,49% a.a.
  • Selic para janeiro de 2027 (simulação de 2 anos): 14,59% a.a.
  • Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de novembro (0,0649%);
  • Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma aplicação de R$ 100 mil, taxa de custódia de 0,20% ao ano, uma taxa de administração igual a zero e o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento).

Veja, na tabela a seguir, quanto você teria ao final de cada período caso aplicasse R$ 100 mil em cada um desses investimentos, nas circunstâncias da simulação anterior:

Investimento Quanto você teria após 1 ano Quanto você teria após 2 anos
Caderneta de poupança R$ 106.993,43 R$ 114.475,94
Tesouro Selic 2027 R$ 111.661,98 R$ 125.790,39
CDB ou fundo Tesouro Selic 100% do CDI R$ 111.764,50 R$ 126.417,66
LCI 90% do CDI R$ 112.747,31 R$ 127.580,54

Fonte: SeuDinheiro

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