Com retornos que beiram os 7% ao ano acima da inflação oficial até o vencimento, os títulos públicos indexados à inflação, vendidos no Tesouro Direto como Tesouro IPCA+, são uma boa pedida para investir agora.
No entanto, no curto prazo, esses títulos de renda fixa são altamente voláteis, pois quando suas taxas avançam, movidas pelas perspectivas do mercado de alta para a taxa básica de juros, seus preços caem – e muitas vezes o tombo é forte.
Trata-se do fenômeno da marcação a mercado, no qual, a cada dia, o preço dos títulos públicos (e outros ativos de renda fixa) é atualizado a preço de mercado, de acordo com as perspectivas para os juros no futuro, o que aumenta ou reduz sua remuneração no vencimento.
Isso porque, embora a rentabilidade contratada na compra seja garantida até o vencimento, caso o investidor deseje vender seu título antes do fim do prazo, ele deverá fazê-lo a preço de mercado, incorrendo em um ganho ou uma perda, a depender dos preços de compra e de venda do papel
Neste ano, por exemplo, os títulos Tesouro IPCA+ de prazos mais longos acumulam perdas de mais de 5%, algo que o investidor de renda fixa normalmente não espera ver em sua carteira.
O motivo é o avanço dos juros futuros (as projeções do mercado para os juros) com a volta das pressões inflacionárias, devido à alta do dólar e ao crescimento econômico robusto, mas também com os temores em relação às contas públicas.
Volátil no curto prazo, mas imbatível no longo prazo
Mas, apesar da alta volatilidade no curto prazo, que pode levar o investidor a perdas caso precise se desfazer do seu título antes do vencimento, o Tesouro IPCA+ é imbatível como investimento de longo prazo, afirma o analista de renda fixa do banco Inter, Rafael Winalda, em relatório publicado neste mês.
Winalda destaca que, no curto prazo, os títulos Tesouro IPCA+, sobretudo os de prazo mais longo e mais voláteis, de fato estão perdendo da taxa básica de juros, a Selic.
Ele compara a variação em 12 meses do índice IMA-B, que mede o desempenho de uma cesta de títulos Tesouro IPCA+ de múltiplos vencimentos, e do IMA-B5+, que faz o mesmo para títulos com vencimentos de mais de cinco anos, com a alta da Selic, que baliza o desempenho de aplicações mais conservadoras, como o título público Tesouro Selic.
Enquanto a Selic subiu 9,3% no período, o IMA-B teve alta de apenas 1,2%, e o IMA-B5+ caiu 2,9%.
Winalda também demonstrou que, em janelas de 12 meses, o IMA-B ora supera a Selic, ora fica abaixo da taxa básica. Para ele, isso corrobora dois pontos: a necessidade de o investidor manter sua carteira de investimentos diversificada e a volatilidade do Tesouro IPCA+ no curto prazo.
No longo prazo, no entanto, o jogo se inverte, diz o analista. Analisando janelas de 60 meses (5 anos) e considerando um retorno de 7% ao ano + IPCA versus a variação da Selic, a rentabilidade indexada à inflação vence a taxa básica nos períodos mais longos desde 2011.
“Como a realidade da economia brasileira era bem diferente no início do século, passando por amplas reformas, diminuição da dívida, entre outros, a Selic superava os 20% ao ano, tornando-a bem mais atrativa do que muitos investimentos. Agora com outra dinâmica, mesmo com o patamar de juros atual, o IPCA+ tende a performar melhor em janela de horizonte maior”, diz Winalda.
Já ao comparar o retorno do IMA-B com o da Selic de 2018 para cá, o analista constata que o índice de títulos públicos indexados à inflação venceu a taxa básica com folga, conforme mostra o gráfico:
“Devido ainda às altas taxas de inflação no Brasil e os prêmios de juros também elevados, o IMA-B acaba sendo uma opção muito rentável, principalmente alongando a janela”, diz o relatório.
Tesouro IPCA+ emitido em 2004 rendeu quase o dobro do CDI
Por fim, Winalda analisou o desempenho em 20 anos do Tesouro IPCA+ emitido em 2004 e que venceu no último mês de agosto. O retorno acumulado do papel foi de 1.337%, ou cerca de 14% ao ano, quase o dobro dos 717% do CDI (taxa de juros que reflete a Selic) no período. Já a inflação foi de 315%.
“Ter aplicado em 2004 e só vendido no vencimento, 20 anos de aplicação, você teria multiplicado seu capital por 14 vezes”, diz o analista.
Fonte: SeuDinheiro