O Japão elevou no mês passado os  juros pela primeira vez em 17 anos, deixando de lado a taxa negativa. Agora, outra marca histórica foi batida: a desvalorização da moeda. 

O iene, considerado uma das divisas fortes e usada como reserva financeira, tem perdido força contra o dólar. A moeda japonesa opera no menor nível desde 1990 ante o dólar, em que US$ 1 equivale a um pouco mais de 157,7 ienes. Siga os mercados.

E, mais uma vez, a culpa é da política monetária. Nesta sexta-feira (26), o Banco Central do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manteve a taxa de juros no intervalo entre 0 e 0,1%. 

Após a decisão, o presidente do BC japonês, Kazuo Ueda, disse que manterá certo afrouxamento da política monetária “por enquanto”. 

O dirigente também afirmou que o BoJ não tem como objetivo direto controlar a taxa de câmbio — tema recorrente nas discussões sobre as decisões de juros no Japão —, mas esclareceu que o iene mais fraco poderá influenciar as próximas decisões caso afete a inflação — o que ainda não aconteceu, segundo Ueda.

Isso porque o BC do Japão já projeta uma inflação em torno da meta de 2% nos próximos três anos. 

Nesse momento, a política monetária vai na contramão do restante do mundo — que já vê espaço para a redução dos juros nas principais economias, principalmente pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e pelo Banco Central Europeu (BCE). 

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Mesmo sendo uma moeda forte como o iene, em um momento de desvalorização das emergentes — como o real —, a divisa japonesa também tem perdido a preferência. 

O Bank of America (BofA) iniciou uma posição de compra do real contra o iene. Um dos motivos para isso é justamente a política monetária adotada pelo Banco Central do Brasil, considerada “hawkish” — com mudança para uma postura mais “agressiva” do presidente do BC, Roberto Campos Neto. 

O real está barato, na visão do banco estrangeiro, e deverá se beneficiar de elevados diferenciais de taxas reais, além de “surpresas” positivas no crescimento econômico do país. 

“O diferencial de juros reais entre Brasil e Japão não está longe das máximas de várias décadas”, escrevem os analistas Ezequiel Aguirre, Christian Gonzalez e David Beker, do BofA. 

“Projetamos taxas de juros em 9,5% e inflação em 3,7% no Brasil até o fim de 2024. Para o Japão, nossas projeções são taxas de juros em 0,25% e inflação em 3,0%. Isto colocaria o diferencial da taxa real em 8,5 pontos. E há uma correlação positiva entre diferenciais de taxas reais e o BRL/JPY.”

Mas os riscos não estão totalmente fora da mesa: a intervenção do governo Lula em empresas estatais e uma intervenção no mercado de câmbio pelo governo japonês. 

O banco estrageiro iniciou a posição quando a cotação do real estava em 29,9 ienes. Na cotação desta sexta-feira (26), R$ 1 equivale a quase 31 ienes.

O alvo do BofA é de um câmbio de 32 ienes por real. A posição do banco tem um carrego (carry) positivo de 4,5% e volatilidade de 11,2% em um horizonte de investimento de seis meses.

Fonte: SeuDinheiro

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