O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) efetuou mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros nesta quarta-feira (20), como já era esperado pelo mercado. Agora, a Selic fica ainda mais perto do patamar de um dígito, passando de 11,25% para 10,75% ao ano.
Com isso, as aplicações de renda fixa mais conservadora, como aquelas que compõem a sua reserva de emergência, passam a render ainda menos, uma vez que costumam ser pós-fixadas e indexadas à Selic ou ao CDI, taxa de juros que caminha junto com a taxa básica. O patamar de rentabilidade de 1,00% ao mês, assim, ficou ainda mais distante.
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Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, que reúne as estimativas dos economistas para os principais indicadores, novos cortes devem ocorrer nas próximas reuniões do Copom, já que a expectativa é que a Selic deve terminar 2024 em 9,00% ao ano.
Mas essa estimativa tende a ser ajustada nos próximos dias, uma vez que o BC mudou o tom do comunicado que acompanhou sua decisão de juros, dizendo que antevê “redução de mesma magnitude na próxima reunião”, no singular; ou seja, apenas mais uma redução de 0,50 ponto neste ano, a princípio, levando a Selic a 10,25%.
Seja como for, a taxa básica deve cair ainda mais neste ano, e consequentemente, também os retornos das aplicações conservadoras. Mas isso não quer dizer que elas devam deixar a sua carteira.
Primeiro porque ter uma reserva de emergência alocada em renda fixa pós-fixada, de liquidez diária e com baixo risco de crédito é sempre fundamental, independentemente do patamar de juros.
Segundo porque, ainda que mais baixa, a taxa básica de juros no Brasil ainda é alta frente à inflação. Nos 12 meses terminados em fevereiro, o IPCA acumulou variação positiva de 4,50%. Assim, o retorno real (acima da inflação) das aplicações pós-fixadas continua interessante.
A queda da Selic para 10,75% ainda não é o suficiente para ativar o gatilho que muda a regra de remuneração da caderneta de poupança para 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR). Esta mudança só ocorre caso a taxa básica caia abaixo de 8,50%, cenário que ainda está bem distante.
Assim, a poupança continua pagando seu tradicional 0,50% ao mês mais TR e se torna um pouco mais atrativa frente às aplicações financeiras indexadas à Selic e ao CDI – mas ainda com retorno pior, mesmo consideradas eventuais taxas e imposto de renda dos investimentos pós-fixados.
Com a Selic em 10,75% ao ano (e supondo um CDI um pouco inferior, de 10,65%, como costuma acontecer), as rentabilidades mensais e anuais líquidas das principais aplicações financeiras conservadoras ficam assim:
Investimento | Retorno líquido em 1 mês* | Retorno líquido em 1 ano** |
Poupança | 0,51% | 6,27% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 0,63% | 8,73% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 0,66% | 8,79% |
CDI bruto | 0,85% | 10,65% |
Parâmetros da simulação
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de fevereiro de 2024 (0,0079%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma taxa de administração igual a zero, o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento) e uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre todo o montante investido, que é o padrão da calculadora do Tesouro Direto. Atualmente, no entanto, existe uma isenção da taxa de custódia para valores aplicados de até R$ 1 mil, o que significa que a verdadeira rentabilidade do Tesouro Selic, nesses casos, é um pouco maior que a estimada na tabela.
Como a Selic deve cair mais neste ano, ela não ficará estagnada em 10,75% por muito tempo. Ou seja, até o fim do ano, a rentabilidade das aplicações conservadoras será ainda menor que os valores projetados na tabela.
Importante notar ainda que, mesmo com a permanência da regra de remuneração da poupança em 0,50% mais TR, a rentabilidade da caderneta também vem caindo, ainda que sutilmente. É que, com a redução da taxa de juros, a TR também tende a recuar, embora responda por uma parcela pequena da remuneração.
Assim, para dar uma ideia melhor de como ficará a rentabilidade dos investimentos conservadores daqui para frente, vamos simular a aplicação para os prazos de um e dois anos utilizando as estimativas do mercado para a Selic e o CDI (DI futuro) para janeiro de 2025 e janeiro de 2026, respectivamente. Repare que ambas já estão na casa de 1 dígito.
Vale frisar, no entanto, que essas projeções podem mudar a partir da decisão do Copom de hoje, bem como das sinalizações do Banco Central para as próximas reuniões. Além disso, as projeções para a poupança continuam considerando a TR de fevereiro, mas esta taxa também pode cair daqui para frente.
Investimento | Retorno líquido em 1 ano* | Retorno líquido em 2 anos** |
Poupança | 6,27% | 12,93% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 8,12% | 17,44% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 8,18% | 17,50% |
LCI 90% do CDI | 8,88% | 20,58% |
Parâmetros da simulação
- DI para janeiro de 2025 (simulação de 1 ano): 9,91% a.a.
- Selic para janeiro de 2025 (simulação de 1 ano): 10,01% a.a.
- DI para janeiro de 2026 (simulação de 2 anos): 9,81% a.a.
- Selic para janeiro de 2026 (simulação de 2 anos): 9,91% a.a.
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de fevereiro (0,0079%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma aplicação de R$ 100 mil, taxa de custódia de 0,20% ao ano, uma taxa de administração igual a zero e o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento).
Veja, na tabela a seguir, quanto você teria ao final de cada período caso aplicasse R$ 100 mil em cada um desses investimentos, nas circunstâncias da simulação anterior:
Investimento | Quanto você teria após 1 ano | Quanto você teria após 2 anos |
Caderneta de poupança | R$ 106.267,97 | R$ 112.928,82 |
Tesouro Selic 2027 | R$ 108.124,20 | R$ 117.439,20 |
CDB ou fundo Tesouro Selic 100% do CDI | R$ 108.175,75 | R$ 117.495,01 |
LCI 90% do CDI | R$ 108.876,51 | R$ 118.346,87 |
Fonte: SeuDinheiro