Nem mesmo uma injeção trilionária de recursos foi suficiente para o mercado financeiro dar um voto de confiança à China. Dois dias após a vitória de Donald Trump nas eleições nos Estados Unidos, o governo de Xi Jinping anunciou um pacote de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões), num período de 5 anos, com intuito de dar suporte à dívida dos governos locais.

A iniciativa, contudo, não agradou os investidores, que esperavam medidas de estímulo direto à economia chinesa. A frustração com a China arrastou junto as cotações do minério de ferro e ecoou até a B3, onde as ações da Vale (VALE3) e das empresas do setor de siderurgia e mineração operam em queda firme.

Por volta das 14h50, os papéis da Vale operavam em queda de 5,60%, a R$ 60,00. Empresas como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) também aparecem entre as maiores quedas do Ibovespa, que cai 1,94% no pregão desta sexta-feira.

Por que o mercado torceu o nariz para o pacote da China?

O mercado aguarda com ansiedade medidas do governo chinês liderado por Xi Jinping que tenham impacto direto sobre o consumo. As famílias chinesas consomem abaixo de 40% do PIB, cerca de 20 pontos percentuais abaixo da média global.

No entanto, oficiais do Partido Comunista da China (PCCh) demonstram resistência a esse tipo de estímulo econômico.

Ao longo dos últimos anos foram aplicadas uma série de medidas de estímulo para tentar conter a crise no setor imobiliário e recompor o crescimento econômico. Mas de modo geral elas não têm atingido as expectativas do mercado. 

As consequências da eleição de Donald Trump e a possível escalada do conflito comercial entre China e Estados Unidos também desestabilizaram a economia chinesa.

No dia da vitória do candidato republicano o yuan caiu mais de 1% em relação ao dólar, atingindo o ponto mais fraco desde agosto e o Hang Seng de Hong Kong teve queda de 2,3%, com gigantes da tecnologia chinesa como JD.com e Alibaba perderam 4% de cotação cada.

O combate à dívida “oculta”

As preocupações do governo chinês, contudo, parecem seguir outra direção. O medo da dívida local e dívidas “ocultas” orientou as últimas medidas chinesas.

Uma cota de dívida dos governos locais foi aumentada em 6 trilhões de yuans, e eles terão acesso a mais 4 trilhões de yuans em emissões previamente autorizadas para facilitar a troca de dívidas, visando reduzir os riscos financeiros sistêmicos.

Além disso, o comitê permanente do Congresso Nacional do Povo, principal órgão legislativo da China, aprovou um projeto de lei que eleva o teto para emissões de títulos especiais dos governos locais, de 29,52 trilhões para 35,52 trilhões de yuans.

Essa “dívida oculta”, usada pelos governos locais para financiar o desenvolvimento de infraestrutura e despesas essenciais, totalizou mais de US$ 9 trilhões no ano passado, o equivalente a mais da metade do Produto Interno Bruto da China, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

As medidas anunciadas na sexta-feira procuram trocar parte das dívidas não registradas por dívidas oficiais.

Esse deve ser o último anúncio de medidas de estímulo do governo chinês neste ano. Com a vitória de Donald Trump nas eleições nos EUA, a expectativa é que o governo de Xi Jinping aguarde as mudanças esperadas na política comercial dos EUA para 2025 antes de lançar um novo pacote.  

*Com informações da CNBC e The Washington Post

Fonte: SeuDinheiro

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