Apesar de todos os esforços dos empresários do setor industrial e de integrantes do governo federal, o presidente da França, Emmanuel Macron, não se sensibilizou com os apelos para que passasse a defender a conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE). Ao contrário: nesta quarta-feira (27), o líder francês deixou claro que não pretende dar prosseguimento às negociações envolvendo os dois blocos.
Macron foi o convidado de honra do Fórum Econômico Brasil-França, realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Também participaram do evento nomes como os presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, e da Fiesp, Josué Gomes da Silva.
Pelo lado do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estiveram presentes pesos pesados como o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Todos defenderam a aprovação do acordo, mas, aparentemente, não convenceram Macron.
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“O acordo com o Mercosul, tal como está sendo negociado atualmente, é um péssimo acordo. Para vocês e para nós. Porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, a vida dos negócios, mudaram muito. Quando se negocia com uma regra antiga, não é a mesma coisa. É preciso reconstruir [o acordo] pensando no mundo como ele é hoje, levando em consideração a biodiversidade e o clima”, afirmou Macron em seu pronunciamento aos industriais.
Jogando um balde água fria na investida dos empresários da indústria e dos políticos brasileiros, o presidente da França disse, ainda, que o acordo “não pode ser defendido”. “Eu não defendo, não posso defender. E digo isso em um país que produz com menos carbono. As empresas brasileiras têm essa sensibilidade, o governo está empenhado na questão da luta contra o desmatamento. Então, precisamos deixar de lado noções de algo construído 20 anos atrás e buscar um novo acordo, construído com base em novos objetivos, que tenha o a luta contra o desmatamento e as mudanças climáticas e a luta pela biodiversidade no centro das prioridades”, afirmou Macron.
“O Brasil e a França são duas potências que podem construir esses acordos, levando em conta o clima e a biodiversidade. A defesa do clima e da biodiversidade nos levará a formular estratégias muito mais ambiciosas”, arrematou o presidente francês.
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A expectativa dos industriais e do governo brasilsiro era a de que Macron estivesse mais aberto para avançar nas discussões sobre a conclusão do acordo comercial entre Mercosul e UE, que está emperrado. No fim de janeiro, o líder francês afirmou que as tratativas em torno do acordo estavam “encerradas” porque a proposta era “antiquada” e “mal remendada”.
Costurado desde o fim dos anos 1990, o acordo comercial entre os dois blocos teve sua primeira etapa concluída em 2019, ainda sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – desafeto de Macron. Desde então, os termos passaram à fase de revisão por parte dos países envolvidos, mas pouco se avançou até aqui.
Macron se opõe ao acordo com o Mercosul, principalmente, por questões políticas domésticas. O tratado é visto com ceticismo na França, pois há preocupação com riscos de enfraquecimento do setor agrícola no país. Ainda segundo o governo francês, caso o acordo se concretize nos termos atuais, empresas francesas que seguem leis ambientais mais duras em seu país terão de competir com companhias que não estão submetidas aos mesmos padrões.
Biodiversidade e clima
Segundo Emmanuel Macron, um dos problemas do acordo entre Mercosul e UE é a falta de um compromisso mais claro relacionado à questão climática e à preservação da biodiversidade. Este foi um dos pontos mais abordados pelo presidente francês em seu discurso na Fiesp.
“Juntos, podemos superar a enfrentar os problemas climáticos, para a diminuição da emissão de carbono. Criando um multilateralismo mais exigente, com regras mais claras, podemos vencer essa batalha que hoje ainda é vista com ceticismo por alguns. O combate ao aquecimento global é uma luta que ainda não foi vencida. Falta muito”, afirmou Macron.
“Não podemos ser vassalos”
Em seu pronunciamento, o presidente da França também falou sobre política. Sem citar expressamente o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu desafeto declarado, Macron disse que o Brasil superou “períodos muito desafiadores nos últimos tempos”, como a pandemia de Covid-19 e crises políticas. “O Brasil tem crescimento sólido e soube controlar inflação e resistir às agitações que, às vezes, sofrem as democracias do mundo”, afirmou.
“As empresas que estão aqui querem ir mais longe e têm toda a razão. Quando vejo o Brasil e a França, acho que podemos e devemos confiar no futuro no Brasil, não apenas como economia, mas como nação”, disse o presidente francês.
“É uma ideia de mundo que temos em comum. Aqui, como na França, queremos ser potências de equilíbrio, de paz e temos fé no multilateralismo. Rejeitamos a força de uma ordem bipolar que quer ditar as regras à sua maneira. Não podemos ser vassalos, lacaios, e temos caminhos que nos permitem ser independentes”, defendeu.
“Acreditem no Brasil e acreditem na França”
Macron também aproveitou o discurso a empresários industriais de Brasil e França para fazer um pedido – para que acreditassem na força de ambos os países.
“Primeiro, peço que as empresas francesas acreditem no Brasil. A segunda mensagem é que as empresas brasileiras deveriam acreditar mais na França e, através da França, acreditar na Europa”, concluiu.
Alckmin: “Visita de grande significado”
Em discurso que antecedeu ao de Macron, o vice–presidente Geraldo Alckmin disse que a visita do líder francês tinha “grande significado” para o Brasil. “É certeza absoluta de que essa sua vinda vai fortalecer ainda mais os laços de amizade, cooperação e parceria entre o Brasil e a França, que, no ano que vem, comemoram 200 anos de relações diplomáticas”, observou Alckmin.
“A França é um dos grandes investidores no Brasil. Mas nós podemos fazer crescer ainda mais o nosso comércio, a complementariedade econômica em várias áreas”, disse o vice-presidente. Segundo Alckmin, o governo Lula “colocou o Brasil como grande protagonista na questão do combate às mudanças climáticas”. “O desmatamento na Amazônia caiu 50% e ocompromisso do Brasil é desmatamento zero”, garantiu.
Fonte: InfoMoney